quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Federal Reserve volta a cortar juros e taxa cai para 3%

INICIUS ALBUQUERQUE
da Folha Online

Pouco mais de uma semana depois de realizar o primeiro corte de juros de 2008 --fora de um encontro regular, o que não ocorria desde os atentados contra o World Trade Center, em setembro de 2001--, o Federal Reserve (Fed, o BC americano) reduziu nesta quarta-feira sua taxa mais uma vez. O corte de hoje foi de 0,50 ponto percentual, e a taxa recuou para 3% ao ano.

Mesmo alegando ainda ter preocupações com pressões inflacionárias, o banco tem realizado os cortes em suas últimas reuniões como forma de estimular consumidores do país a continuar comprando, e empresas a continuar tomando empréstimos e financiando investimentos. Tudo para evitar uma desaceleração ainda maior da economia norte-americana --e uma eventual recessão.


Arte Folha/Federal Reserve
Juros nos EUA
Juros nos EUA

Como mostrou mais cedo o Departamento de Comércio, dos 4,9% de crescimento no terceiro trimestre do ano passado, a economia americana recuou para uma expansão de apenas 0,6%. Os indicadores econômicos do país já vinham, de certo modo, prenunciando o dado divulgado hoje: um dos mais significativos foi a criação de 18 mil empregos no mês passado (número mais baixo desde agosto de 2003). A taxa de desemprego, por sua vez, subiu de 4,7% para 5% (maior desde novembro de 2005).

Outro indicador que foi causa de preocupação sobre o desempenho da economia americana foi a queda de 0,4% nas vendas no varejo no mês passado --principalmente considerando-se que em novembro havia sido registrada uma alta de 1% (que, por sua vez, também é menor que o 1,2% visto na estimativa inicial).

Dados sobre consumo são acompanhados pelo Fed e por analistas e investidores com cuidado, já que ele responde por cerca de 70% de toda a atividade econômica dos EUA.

O presidente George W. Bush, em seu discurso sobre o Estado da União, pronunciado nesta segunda-feira, reconheceu que a economia dos EUA passa atualmente por um "momento de incerteza", que tem em sua raiz a crise do mercado imobiliário americano.

Após o período de 2001 a 2005, em que os preços dos imóveis residenciais no país tiveram um forte aumento, as altas de juros efetuadas pelo Fed até então (enquanto estava em sua presidência Alan Greenspan, que se aposentou em 2006) começaram a afetar as vendas de casas e os pagamentos de hipotecas.

A inadimplência nas hipotecas do segmento chamado de "subprime" (que reúne clientes com histórico de problemas com crédito) finalmente chegou a níveis críticos e deu origem à atual crise nos mercados de crédito de um modo geral.

A fim de impedir que essa crise leve a economia dos EUA a uma recessão, o governo e o Fed vêm buscando uma solução conjunta. O Fed através dos cortes de sua taxa --no ano passado foram três cortes consecutivos, em setembro (0,50 ponto percentual), outubro (0,25 ponto percentual) e dezembro (0,25 ponto percentual)--, e o governo com um pacote de alívio fiscal.

A Câmara de Representantes dos EUA (equivalente à Câmara dos Deputados) aprovou ontem o pacote, de US$ 146 bilhões, proposto por Bush. A medida, no entanto, ainda tem de obter aprovação no Senado (que, no entanto, tem uma agenda própria).

Pelo acordo aprovado, famílias com filhos devem receber outro desconto de US$ 300 por criança --nessa modalidade, o benefício seria limitado a um teto de US$ 1.200. Os descontos beneficiariam pessoas que ganham até um determinado nível salarial (o limite deve beneficiar indivíduos com renda bruta de até US$ 75 mil anuais ou casais com renda conjunta anual bruta de até US$ 150 mil).

Para empresas, de imediato seria permitida uma dedução de 50% nos impostos sobre as compras de unidades de produção e outros bens de capital. Além disso, as pequenas empresas terão mais facilidades em deduzir despesas de suas declarações e as que vêm registrando perdas conseguiram restituições sobre impostos já pagos.

Perspectiva

O FMI (Fundo Monetário Internacional) informou ontem que, mesmo com a perspectiva de que a desaceleração econômica nos EUA reduza o ritmo de crescimento mundial, o paíse deve conseguir evitar uma recessão.

Para 2008, a expectativa do Fundo é que a economia dos EUA cresça 1,5%, abaixo dos 2,2% de crescimento estimados para 2007. Em outubro do ano passado, o Fundo havia divulgado uma expectativa de crescimento de 1,9% para os EUA em 2008.

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Especial

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Palavra do momento: Volatilidade

24/01/2008 - 13h08

Bovespa opera em forte alta após plano de socorro a seguradoras nos EUA

Da Redação
Em São Paulo
A decisão do governo dos Estados Unidos de detalhar um plano para auxiliar seguradoras de títulos com problemas e protelar uma nova leva de baixas contábeis bilionárias deu impulso aos mercados de ações nesta quinta-feira. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) opera em forte alta, enquanto o dólar cai.

Por volta das 13h, o Ibovespa, principal indicador do mercado de ações, avançava 4,89%, aos 56.885 pontos (acompanhe gráfico da Bolsa com atualização constante).

O dólar, ao contrário, estava em baixa. No mesmo horário, a moeda norte-americana caía 2,19% e era vendida a R$ 1,785 (veja quadro com a cotação do dólar).

Arte UOL
Quadro mostra perdas e ganhos da Bovespa acumulados nos últimos meses. Veja aqui
Os mercados asiáticos fecharam em alta pelo segundo dia, repercutindo a notícia sobre os planos do governo americano. Na Europa, os principais índices de ações sobem fortemente.

O plano do governo americano foi anunciado na noite de quarta-feira (22), depois do fechamento dos negócios da Bolsa brasileira. Mas os principais índices da Bolsa de Valores de Nova York ainda funcionavam e acabaram encerrando em alta de mais de 2% cada.

Volatilidade
O medo de uma recessão nos Estados Unidos tem imposto volatilidade aos mercados financeiros globais desde o início do ano. Nesta semana, particularmente, as oscilações foram mais intensas. Na segunda-feira, a Bovespa caiu 6,6%; na terça, subiu 4,45%, com a redução forte e inesperada do juro básico americano (de 4,25% ao ano para 3,5%); na quarta, a Bolsa brasileira caiu mais 3,32%.

"Estamos à mercê dos mercados externos. Aqui só nos resta a cautela", disse Francisco Carvalho, gerente de câmbio da Corretora Liquidez, acrescentando que o mercado reage pontualmente a toda notícia que vem de fora que possa ajudar a avaliar os riscos de uma possível recessão.

"Hoje temos a reação do plano de ajuda das seguradoras e o PIB da China, que está muito forte", disse o gerente, lembrando que qualquer notícia pode mudar o cenário. "Não tem jeito, a palavra do dia e dos próximos meses é volatilidade."

Miriam Tavares, diretora de câmbio da AGK Corretora, ressaltou que o alto diferencial de juros a favor do Brasil, realçado pelo forte corte da taxa do Federal Reserve, "além da expectativa de continuidade das exportações das commodities devem continuar neutralizando parte das eventuais pressões de alta do dólar ante o real".