sábado, 9 de fevereiro de 2008

As melhores ações em 2008

EXAME combinou as indicações de 21 analistas do mercado financeiro e um estudo estatístico da consultoria Economática para selecionar os cinco setores e os 20 papéis mais promissores neste ano

Mario Rodrigues

Ponte em construção em São Paulo: o setor de infra-estrutura é uma das apostas para o ano

EXAME O início de 2008 mostrou que este será um ano bem mais difícil para quem aplica em ações. Mas o investidor que estiver disposto a suportar altos e baixos tem a chance de chegar a dezembro mais rico. Espera-se que o Índice Bovespa feche o ano em 75 000 pontos, o que representa uma valorização de 26% em relação ao fechamento do fim de janeiro. Algumas ações podem subir mais do que isso -- entre elas as que estão indicadas nas próximas seis páginas. Para selecioná-las, EXAME ouviu as recomendações de 21 analistas de alguns dos principais bancos e corretoras do país. Essas indicações foram então comparadas com um levantamento da consultoria Economática, que analisou indicadores financeiros das empresas de capital aberto para apontar as mais promissoras. As ações que constam desta reportagem passaram por esses dois crivos.

INFRAESTRUTURA
Um ano de investimento em energia e logística
2008 será especial para os setores ligados à infra-estrutura. Mas é preciso cautela com as construtoras

Uma das poucas opiniões unânimes de todos os analistas ouvidos por EXAME é que haverá mais investimentos em infra-estrutura neste ano -- tanto por parte do governo como da iniciativa privada. "Com o crescimento econômico, esse é um gargalo que precisa ser resolvido de qualquer forma, ou o país pára", diz Marcos Elias, sócio da gestora de recursos EM Financial Services, de São Paulo. Essa perspectiva beneficia empresas que atuam em setores como os de construção, energia e logística. É o caso, por exemplo, da administradora de rodovias CCR. A companhia é considerada uma das favoritas para vencer as novas licitações de estradas que devem ser realizadas pelo governo neste ano. Também são boas as perspectivas para geradoras de energia elétrica como AES Tietê e CPFL, que lucram com o aumento da demanda por parte das empresas.

Um segmento mais controverso é o de construção civil. Para os especialistas consultados por EXAME, as excelentes expectativas para o setor neste ano, criadas pelo recente boom do mercado imobiliário, não beneficiarão todas as construtoras e incorporadoras de capital aberto. "Algumas ações ainda estão caras e, num ano mais complicado como o atual, o ideal é fazer apostas mais conservadoras", diz Vladimir Pinto, analista-chefe da corretora do Unibanco. "Os investidores devem preferir as empresas que já estão entregando bons resultados -- e esperar para ver a evolução daquelas que estão apoiadas apenas em perspectivas futuras de crescimento." Também vale a pena ficar atento a uma provável onda de consolidação que deve ocorrer nesse setor ao longo do ano. Segundo os analistas, o mercado brasileiro de construção é pulverizado demais quando comparado ao de outros países. "Poderemos ver diversos negócios em breve: fusões entre construtoras de médio porte, companhias maiores comprando menores, quem sabe até a união de duas empresas grandes", diz um executivo do mercado. Nem todos os negócios vão beneficiar os acionistas minoritários. "O investidor vai precisar ficar atento e, eventualmente, mexer nas suas aplicações", diz ele.

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Promessas de crescimento


CONSUMO
Vacina contra a crise americana
Uma saída para proteger seus investimentos da crise americana é aplicar em ações de setores que não dependam do desempenho da economia internacional. É o caso das empresas que vendem para o mercado interno, como as varejistas e os portais de comércio eletrônico. "Essas companhias se beneficiam do crescimento do PIB brasileiro, que está inserindo uma nova massa de consumidores no mercado", diz Martha Dubugras, sócia da gestora de recursos Paraty, do Rio de Janeiro. Para ganhar dinheiro aplicando nas ações dessas empresas, porém, é preciso selecionar. Apesar de as perspectivas serem favoráveis, nem todas as companhias desse setor são boas alternativas de investimento. Os analistas recomendam escolher empresas que tenham planos concretos de expansão e venham entregando resultados consistentes. "Algumas empresas, como as de vestuário, decepcionaram os investidores no passado, porque prometeram crescimento e não entregaram", diz Alan Cardoso, analista da corretora Prosper, do Rio de Janeiro.

Hoje, as melhores opções nesse mercado são negócios de três segmentos: tecnologia, comércio eletrônico e varejo (veja quadro). A que promete a maior valorização é a Ideiasnet, uma holding que investe em 18 empresas de tecnologia -- a alta prevista é de 120%. Seu risco, porém, é elevado. A companhia registrou prejuízo de 868 000 reais no terceiro trimestre de 2007, decorrente de novas aquisições, e precisa aumentar sua rentabilidade para entregar bons resultados aos acionistas. Outra companhia vista com otimismo pelos analistas é o portal de comércio eletrônico B2W, que vem lucrando com a contínua expansão das vendas pela internet.

Como lucrar com a expansão do PIB


COMMODITIES
Elas não decepcionam o acionista há anos
As ações das produtoras de commodities devem continuar se valorizando

Aplicar nas ações de empresas ligadas à produção de commodities como aço, petróleo e minério de ferro tem sido um ótimo negócio para o investidor brasileiro há anos -- e deve continuar assim em 2008. "O que explica o bom desempenho dessas companhias é o fato de o Brasil ter grande vantagem competitiva nesse setor, o que favorece as exportações", diz Ralph Rosenberg, sócio da gestora de recursos Perfin, de São Paulo. As ações desse setor que têm as maiores chances de se valorizar até dezembro, na opinião dos especialistas ouvidos por EXAME, são as de Aracruz, Gerdau, Petrobras, Usiminas e Vale. Entre elas, a que reuniu o maior número de recomendações foi a Vale -- citada por 18 dos 21 profissionais de bancos e corretoras consultados. Eles estão otimistas com a forte demanda dos países emergentes, especialmente da China, pelo principal produto da companhia, o minério de ferro. "A Vale deve conseguir reajustar novamente o preço do minério neste ano. A previsão é de alta de 25%, o que permite projetar bons resultados para a empresa", diz Eduardo Kondo, analista da corretora Concórdia. Se o reajuste ocorrer, será o quarto ano consecutivo de aumento de preços. Essa foi uma das principais razões que fizeram os papéis da mineradora subirem cerca de 200% desde o fim de 2004. Um estudo feito pela consultoria Boston Consulting Group com as maiores empresas globais de capital aberto -- com valor de mercado superior a 50 bilhões de dólares -- revela que a Vale foi a que deu maior retorno a seus acionistas entre 2002 e 2006.

Outra ação recomendada é a da Petrobras, sexta maior companhia aberta de petróleo do mundo, com valor de mercado de 350 bilhões de reais. As recentes descobertas de reservas de petróleo e gás levaram muitos bancos e corretoras a melhorar suas projeções para a estatal. Como as perspectivas são otimistas, a Petrobras foi incluída na lista de indicações desta reportagem, apesar de o preço de sua ação estar mais alto que a média de seu setor. O cálculo que mostra se um papel está caro ou barato é feito com base num indicador de mercado conhecido como índice preço-lucro. Ele mede o número de anos que um investidor tem de esperar para reaver o dinheiro aplicado na ação de uma empresa recebendo apenas os dividendos pagos por ela. Quanto maior o índice, mais cara a ação. É o caso da Petrobras: seu índice preço-lucro é de 12,4, enquanto a média de seu setor é de 10,9.

A Petrobras tem um risco que outras companhias do setor não têm: o de uma gestão influenciada por interesses do governo. A estatal vem perdendo profissionais para concorrentes privados, como a OGX, do grupo EBX, controlado pelo bilionário Eike Batista -- o que leva alguns analistas do mercado a colocar em dúvida sua capacidade de contratar pessoal e explorar com eficiência as novas reservas que descobriu.

No caso das siderúrgicas Gerdau e Usiminas, a expectativa de valorização se deve ao aumento da demanda por aço no mercado interno. A Usiminas, por exemplo, é a única produtora brasileira de chapas usadas na fabricação de plataformas de petróleo e dutos para transportar álcool, gás e petróleo. "Esse é um segmento em franca expansão hoje", diz Fernando Fanchin, analista de renda variável da gestora de recursos Rio Bravo. A Gerdau, por sua vez, fornece vergalhões para a indústria de construção civil e, por isso, ganha com a expansão do setor imobiliário, que vive seu melhor momento em décadas. Os analistas também vêem o setor de papel e celulose de forma otimista. O motivo é o crescimento das compras desses produtos em países emergentes, como China e Índia. Para eles, isso compensa a esperada queda nas vendas para os Estados Unidos.

Apesar de o cenário ser róseo, ao aplicar em ações de produtoras de commodities, o investidor precisa estar ciente de que esse segmento tem um risco evidente: o de os preços caírem se houver desaceleração mais acentuada da economia mundial. Para evitar prejuízos pesados, o conselho dos especialistas é acompanhar a evolução dos preços das commodities e dos resultados das empresas. Se, ao longo do ano, houver piora nos preços, pode ser necessário reconsiderar as aplicações em ações do setor.

O destaque continua sendo a Vale


AGRONEGÓCIO
Mais vendas de alimentos para países emergentes
Empresas como Perdigão e Sadia beneficiam-se do maior consumo na Ásia

O forte aumento do consumo de alimentos em países emergentes continuará beneficiando as vendas da Perdigão e da Sadia neste ano. É essa a avaliação dos analistas ouvidos por EXAME. As empresas são as maiores produtoras de carne e frango do país e exportam boa parte dessas mercadorias para a Ásia e o Oriente Médio. Além disso, têm a vantagem de não depender das vendas de carne bovina para o exterior, que serão prejudicadas pelas barreiras impostas pela União Européia. A grande aposta dos analistas é a Perdigão, que em 2007 passou a Sadia e assumiu a liderança do mercado brasileiro de alimentos. "A empresa é bem administrada e tem um portfólio diversificado de produtos", diz Fabio Guimarães, analista de renda variável da gestora carioca Rio Bravo. Espera-se ainda que a Perdigão comece a exportar leite nos próximos meses depois de ter comprado a fabricante de laticínios Eleva no ano passado.

A Sadia também faz parte da lista de recomendações em razão da expectativa de que investirá pesado para retomar a liderança do mercado. No fim de 2007, a empresa inaugurou uma fábrica na Rússia -- sua primeira unidade no exterior --, o que deve favorecer as exportações. Outra indicação dos especialistas é a SLC, uma das maiores produtoras agrícolas do país, com plantações de algodão, soja, milho e café em cinco estados. A SLC vem lucrando com os altos preços das commodities agrícolas no mercado externo, não afetados pela crise internacional.

Onde estão os ganhos no campo


BANCOS
Empréstimo em alta, calote em baixa
As ações dos bancos voltarão a subir, dizem os analistas de mercado

A maioria das ações de bancos caiu bem mais que a média da bolsa em janeiro. Enquanto o Índice Bovespa se desvalorizou em 7% no mês, os papéis do Bradesco perderam 16% e os do Itaú 13%, por exemplo. O principal motivo das baixas nada tem a ver com os resultados dos bancos brasileiros -- deve-se à preocupação generalizada dos investidores estrangeiros com esse setor, em razão dos prejuízos contabilizados pelas instituições financeiras americanas com o colapso do segmento de hipotecas subprime. "Apesar de o Brasil estar fora do raio de alcance da confusão lá fora, em momentos mais agudos da crise, acaba sofrendo junto", diz Paulo Clini, gestor de renda variável da empresa americana de investimentos Legg Mason. "Além disso, a forte desvalorização das ações dos bancos estrangeiros fez os papéis das instituições locais ficarem comparativamente mais caros."

Espera-se, porém, que os efeitos desse contágio diminuam nos próximos meses, o que deve fazer as ações dos bancos voltarem a subir. As perspectivas para o setor são positivas, em razão do contínuo aumento do crédito a empresas e pessoas físicas. "Outro aspecto interessante dos bancos brasileiros é o fato de sua gestão ser, em média, muito superior à dos demais setores da bolsa", diz Lika Takahashi, estrategista-chefe da Fator Corretora. O principal risco dos bancos é o crescimento da inadimplência, mas os especialistas acreditam que a maioria das instituições conseguirá manter o número de maus pagadores sob controle.

A vez dos novatos

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